Ainda quando garoto, comecei a escrever poesia e rimava tudo, todo dia, mas não ficava maroto. Depois dos poemas, passei a compor com muito rigor e estratagemas. Mas hoje não sou mais escravo daquela bobagem da tal silabagem, que considero um estrago. Sou como Drummond, o tal do Andrade, livre na vida, dizendo a verdade. Rimas e métricas apenas por estéticas não me atraem mais e acho até triviais... Vou ficando por aqui pra não soar juvenil, mas é que de poesia infantil eu “já estou por aqui”. Ricardo Starling Brasília, 5 de fevereiro de 2021.
Números, números, números
Num instante, de repente, cá estava eu novamente pensando como todos os outros. E bateu aquele aperto, aquela cobrança de que tenho que ser mais, ou melhor, de que tenho que ter mais daquilo que uns têm e que outros nem têm. Números, números, números… O homem venera os números porque sempre se pode acrescentar mais um… Então o homem se esquece de aproveitar de verdade aquilo que tem, e aproveita ainda muito menos aquilo que é. Porque nunca lhe convém se sentir bem com o que já tem. Existe a Terra do Nunca e a Terra do Sempre… Sempre correndo atrás de números. É nessa que a gente vive. É o mundo do tenho, você não tem; fui, você não foi; vou, você não vai; você já foi? Eu fui mais... Mas todos se vão! Enquanto isso, não preciso de muito para ser feliz. Por isso relaxo e respiro, afinal, eu prefiro pensar e existir. Prefiro viver, ao invés de passar a maior parte do tempo insatisfeito e tentando decorar números, em busca de mais números. Ricardo Starling Brasília, 4 de fevereiro de 2021.
Falsos profetas
Como disse um grande poeta lá de Sobral, no Ceará, cujas ideias realistas é sempre bom relembrar: “eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais”. Eu não estou interessado em discursos baratos, sem nexo com os fatos, que rimam qualquer coisa com religião, qualquer ideia doida com sermão, numa alucinação banal no palanque da moral. O pior dessa loucura é que não se encontram nas farmácias os remédios para as falácias que surgem espontaneamente, diariamente, absurdamente, inacreditavelmente, dentro de suas mentes, como abortos saídos de seus dedos, constatados, registrados, ignorados, subnotificados, infundados, inexplicáveis, insustentáveis, enfim, sem sentido. Mas vendem esparadrapos para tapar as bocas dos fanáticos, dos lunáticos, que fazem das religiões verdadeiras seitas, proferindo ideias sem prescrições e sem receitas, colocando palavras na boca de Deus. Com todo respeito às suas crenças, meu nobre leitor, mas é que por aí tem muito enganador enganando a si mesmo e julgando com chicotes. No estalar de suas línguas, ouço chicotadas deturpadas de quem ainda não entendeu que o seu próprio Deus já lhes havia dito, e até deixado por escrito, que atirasse a primeira pedra aquele que não tivesse pecado. Pelo contrário. Fizeram foi como Davi, que matou Golias a pedradas. Compraram até estilingues para treinar a pontaria de sua infantaria infantilizada e totalmente atrasada (diria até “hipócrita”), de quem não tem nenhuma empatia para amar e respeitar os outros como a si mesmos. Ricardo Starling Brasília, 3 de fevereiro de 2021.
um murro no muro
Mercadorias, melancolias e melodias… Produtos e subprodutos. Posso me revoltar sem armas? Talvez uma picaretada Na cara do picareta. Ou um murro no muro. Os muros são duros, São surdos, São mudos, São surdos-mudos. Nem adianta explicar. Perdemos o mundo Pouco a pouco Por entre os dedos dos pés, Na lama da terra, Nos crimes selvagens. O que há de melhor em mim É a revolta No lamaçal de lodo De onde me salvo. Ricardo Starling Brasília, 2 de fevereiro de 2021